Zero por cento de Pessoas com Deficiência


Sophy Ridge, jornalista da Sky News, canal televisivo britânico de informação, entrevistou, há cerca de semana e meia, Matt Hancock, actual Secretário de Estado da Saúde do Reino Unido. Questionou-o acerca do número de pessoas pertencentes às ditas minorias, na sequência das dúvidas que Hancock terá lançado acerca da "inquestionável" relação entre a propagação do vírus e as manifestações anti-racistas.

"Quantos africanos fazem parte dos gabinetes ministeriais?", pergunta Sophy. Matt Hancock vacila, e serpenteia pela verdade: "Bom, há uma data de gente com um background ligado aos africanos e às minorias étnicas nos gabinetes". Pois. Na verdade, o Conselho de Ministros é composto por: 27% de mulheres, 15% pessoas "não brancas", 0% de pessoas africanas e 0% de pessoas com deficiência. Não há ninguém com menos de 38 anos de idade nem com mais de 57. 89% dos seus colaboradores têm entre 40 e 55 anos, 65% estudaram no ensino privado e 50% nas Universidades de Oxford e Cambridge. Por outro lado, o número de pessoas ligadas ao ramo das ciências ditas exactas nos gabinentes é brutalmente baixo: apenas 3 pessoas em 26.

Hancock quis emendar a mão, dizendo que "o Reino Unido não é um país racista mas que muito tem ainda que ser feito". Já não chegou a tempo. Os números são os números. E são estes.

Mas há mais o que dizer, e que talvez seja tão importante quanto os números: Hancock, dizendo o que já sabia e evitando, ao mesmo tempo, uma resposta directa à pergunta que lhe foi feita, revela algo importante, e que é sempre pedra de toque quando abordamos questões referentes às desigualdades sociais, a saber, Hancock, mesmo supondo que acha que pode, jamais poderá pensar como um africano, como um esquimó ou como uma pessoa com deficiência. Não pode não porque não queira, não pode porque não sabe, por exemplo, que um desnível entre a rua e o passeio superior ao comprimento do dedo indicador pode ser mais que suficiente para que alguém que se desloca em cadeira de rodas eléctrica possa ficar por ali, entre a rua e o passeio, sem a subir ou sem o descer.

(imagem: ©Ale + Ale, "hapiness dome", 2020)

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